Transtorno alimentar: o que você precisa saber agora
Procurar ajuda é sempre a melhor saída para lidar com um transtorno alimentar. Você deve saber que profissionais como nutricionistas, psicólogos e psiquiatras são parceiros nessa jornada.
É claro que o caminho não costuma ser uma linha reta e por isso buscar informação é importante para que você se empodere da sua história.
Nesse artigo explico o que são os transtornos alimentares e sobre fatores que estão relacionados com a causa. Você também vai encontrar informações sobre os transtornos mais comuns e seus sintomas associados.
Além disso, quero falar com você sobre como perceber que o transtorno alimentar pode estar prejudicando a sua qualidade de vida e, de forma gentil, explicar o papel do nutricionista e como ele pode ajudar de verdade. Vem comigo?
Então, o que é transtorno alimentar?
É definido como um transtorno mental causado pelo padrão de comportamento extremo e pela relação obsessiva com a alimentação. O transtorno alimentar, também conhecido como “distúrbio alimentar”, tem critérios de diagnósticos bem fechados e é considerado um quadro psiquiátrico grave, além de colocar em risco a saúde do indivíduo.
O que causa TA?
A causa de um transtorno alimentar está bastante associada aos aspectos sócio-culturais, como o padrão de beleza centrado na magreza reforçado pela pressão midiática.
Aliado a isso, existem os aspectos familiares, que podem ter influenciado preocupações extremas com peso e dieta através da educação.
Ao mesmo tempo, aspectos psicológicos podem iniciar transtornos alimentares. Alguns traços de personalidade como perfeccionista, obsessivo e dificuldade em expressar emoções podem ser identificados em quem está lidando com um transtorno alimentar.
Individualmente, podemos dizer que a causa está relacionada com a história de vida de cada pessoa e a quais aspectos ela foi exposta.
Quando olhamos para os aspectos biológicos que causam um transtorno alimentar, percebe-se alterações de neurotransmissores e também nos hormônios responsáveis pelo controle biológico da fome e da saciedade.
Agora que você entendeu que a causa é multidimensional, vamos olhar para os fatores de predisposição, fatores precipitantes e mantenedores dos transtornos.
Os fatores de predisposição indicam quem está mais vulnerável a desenvolver um transtorno.
Do ponto de vista genético o histórico familiar de TA é um dos fatores. Em relação à personalidade, a baixa auto-estima, a impulsividade e, como já disse, perfeccionismo e obsessividade estão entres esses fatores.
Também estão entre eles, as alterações no sistema neurológico ligadas à serotonina e noradrenalina.
Já os fatores precipitantes, podem ser considerados como gatilhos para o aparecimento dos transtornos. Alguns deles são dietas restritivas, a menarca, as mudanças na dinâmica familiar, a perda de alguém querido, uma separação e também ser vítima de um abuso sexual.
Por fim, os fatores mantenedores influenciam na permanência do transtorno. Entre eles estão depressão e ansiedade, bem como distorção da imagem corporal e distorções cognitivas sobre alimentação. Outros fatores são as práticas purgativas.
Existem diferentes tipos de transtornos alimentares
Você deve saber que cada caso de transtorno alimentar é diferente, mas existem 3 tipos que são mais comuns. É sobre eles que eu gostaria de falar hoje: classificados como anorexia nervosa; bulimia nervosa; transtorno compulsivo. Confira abaixo mais detalhes sobre cada um deles.
Anorexia Nervosa
A palavra é formada pelo prefixo AN que significa falta, e OREXIS que significa fome e apetite. Embora o nome dê a entender que o que causa a doença é falta de apetite, não é assim que a anorexia deve ser compreendida.
Isso porque quem está lidando com o transtorno deixa de comer e controla a alimentação com o objetivo de perder ou de não ganhar peso, e não necessariamente porque tem falta de apetite.
Existe a Anorexia Nervosa Restritiva, marcada pela baixa ingestão de calorias e exercícios físicos em acesso. Um quadro avançado, chamado de Anorexia Nervosa Purgativa, tem como característica indução ao vômito e o uso excessivo de laxantes e diuréticos.
Quem tem Anorexia Nervosa vive o resultado de uma preocupação extrema com o próprio peso, onde há uma perturbação no modo de vivenciar o peso baseada no medo de engordar.
Uma forte características desse distúrbio alimentar é que a pessoa se autoavalia com excesso de peso e possui algum tipo de distorção da imagem corporal.
É comum dizer que as pessoas com anorexia estão abaixo do peso saudável, mas isso não é a regra.
Nos casos em que há baixa de peso corporal, é comum que a pessoa com o transtorno não consiga reconhecer a seriedade que ela apresenta.
É válido dizer que a distorção corporal que enfrentam é instável, ou seja, não necessariamente a pessoa convive com isso o tempo todo. Entendendo isso, nota-se que algumas situações atuam como gatilhos, como achar que comeu muito ou ver fotos de pessoas magras.
Consequências da obsessão por um corpo magro
A fixação por um corpo magro faz com que ela perca qualidade de vida. Quem tem anorexia nervosa costuma fazer dietas extremamente restritivas, conta calorias, elimina refeições, faz longos jejuns.
Em caso de anorexia nervosa purgativa, além dessas práticas, a pessoa também pode abusar de laxantes, diuréticos e até de exercícios para compensar o que foi ingerido.
Homens e mulheres com anorexia nervosa podem apresentar sintomas como anemia, inibição do ciclo menstrual, gastrite, pele seca e a preocupação obsessiva em não ganhar peso.
Bulimia Nervosa
A bulimia nervosa é caracterizada por episódios de compulsão alimentar seguidos de um grande sentimento de culpa que estimula um comportamento compensatório inapropriado para prevenir o ganho de peso.
Entre os métodos compensatórios, é mais comum atrelar a bulimia à indução ao vômito. No entanto, quem faz exercícios físicos em excesso com o intuito de compensar episódios de compulsão pode estar igualmente enfrentando a bulimia.
Além disso, o uso de laxantes e diuréticos com o objetivo de se livrar do que comeu faz parte das características desse transtorno alimentar.
Também percebe-se nas pessoas com bulimia nervosa uma personalidade perfeccionista extrema e com alto grau de exigência sobre si mesmo.
Diferente do que muitas pessoas pensam, não é uma doença apenas de pessoas magras. No geral para quem está lidando com a bulimia, o peso e a forma corporal são critérios essenciais para sua autoavaliação e têm importância central na sua vida.
Afinal, o que é compulsão alimentar?
Para entender melhor o que caracteriza a bulimia, é importante entender o que são esses episódios de compulsão alimentar. Por isso, vale começar lembrando que compulsão alimentar não é exagerar na ceia de natal, nem comer uma barra de chocolate sozinho.
Um episódio de compulsão alimentar pode ser definido como total perda de controle do que está comendo, em que a pessoa não consegue parar ou evitar de comer.
Normalmente a pessoa come fora de contexto e ingere uma grande carga calórica em um curto período de tempo, sem importar muito o tipo do alimento. Em muitos casos, as pessoas também comem escondido por vergonha.
Esses episódios são sucedidos do sentimento de culpa e vergonha. E assim um ciclo pode se estabelecer, uma vez que a culpa gera mais ansiedade e sintomas depressivos e a pessoa tenta compensar esse sentimentos com comida.
Consequências dos métodos compensatórios da bulimia nervosa
As consequências desses métodos compensatórios para quem está lidando com a bulimia nervosa implica em complicações clínicas e também num grande sofrimento.
Por exemplo, provocar vômito durante 10 anos pode provocar a laceração do esôfogo, desgastar o esmalte dentário, encadear uma hemorregaia digestiva e causar uma parada cardiorespiratória.
Além disso, todos os métodos compensatórios mudam completamente o metabolismo e podem gerar distúrbios eletrolíticos que é a insuficiência de minerais no sangue. O uso de laxantes e diuréticos não emagrece, apenas faz perder água e causam dependência psicológica.
Infelizmente quando a pessoa busca ajuda já está há muitos anos convivendo com a doença. Mas em qualquer etapa é possível buscar uma relação mais confortável com a comida. O tratamento é multiprofissional tem o objetivo de promover maturidade emocional e autonomia sobre a alimentação.
Transtorno de Compulsão Alimentar
Uma pessoa que convive com o transtorno alimentar compulsivo vivencia episódios recorrentes de compulsão alimentar, que ocorrem no mínimo 1 dia por semana durante alguns meses.
Como expliquei o que caracteriza esses episódios de compulsão no tópico anterior sobre bulimia nervosa, acho importante esclarecer que no Transtorno de Compulsão Alimentar os episódios não são seguidos por comportamentos compensatórios.
As pessoas com esse transtorno alimentar têm a sensação de perda de controle total sobre o que estão comendo. Geralmente esses episódios ocorrem escondidos e é comum que a pessoa coma de tudo, desde doces a feijão gelado.
No transtorno compulsivo, o volume de alimentos ingeridos é a principal característica. Logo depois, surge a sensação de angústia, arrependimento.
Um episódio de compulsão pode ser identificado quando engloba cerca de 3 desses critérios:
comer muito e mais rápido que o normal
comer até se sentir cheio de forma desconfortável
comer muito, mesmo sem estar faminto
comer sozinho por vergonha da quantidade de alimento que ingere
sentir repulsa consigo, depressão ou grande culpa depois de comer demais
Diante desses episódios, as pessoas sentem muita vergonha da compulsão alimentar e acreditam que não possuem força de vontade para combater esses impulsos.
Além disso, existe o sofrimento que a relação não saudável com a comida causa, bem como a baixa auto-estima e a dificuldade de aceitação do próprio corpo.
Como um nutricionista pode ajudar?
O tratamento para um transtorno alimentar deve ser multiprofissional. Por isso muitas vezes o paciente chega na nutricionista através de um encaminhamento do psiquiatra ou psicólogo.
Quem tem anorexia ou bulimia chega no consultório de nutrição de forma consciente, mas tem resistência de aderir ao tratamento porque tem medo de ganhar peso.
Quem tem compulsão provavelmente já passou por algumas dietas restritivas e a lembrança que tem de um nutricionista é de subir na balança e levar pra casa aquele papel da dieta.
A descrença de que um nutricionista pode ajudar tem origem na prática profissional de não ser um aliado na melhora da relação com a comida.
Infelizmente existe essa barreira, mas quero que você saiba que um nutricionista pode contribuir muito para a jornada de alguém que está lidando com um transtorno alimentar. A minha recomendação é procurar ajuda de um profissional especializado em TA.
Para deixar claro que um profissional especializado pode ter uma abordagem diferente e livre de julgamento, apresento alguns objetivos para ajudar um paciente a lidar com o transtorno alimentar:
Ajudar a melhorar a relação do indivíduo com a comida e com o próprio corpo.
Discutir qualidade de vida
Ajudar a enxergar e valorizar o que o paciente tem feito de positivo pela sua alimentação.
Atuar para contornar as complicações clínicas e restabelecer o funcionamento do metabolismo.
Com base em estudos científicos, apresentar informações e tirar dúvidas sobre a natureza dos alimentos e sobre o próprio transtorno.
Melhorar a relação do paciente com o peso. Nesse caso, alguns acordos podem ser feitos entre paciente e nutricionista.
Ajudar na redescoberta do prazer em comer, aliviando a culpa e diminuindo a angústia.
Restabelecer o comer social para que a pessoa consiga sair para jantar com os amigos.
Trabalhar a autonomia do paciente, fazendo com que ele note os sinais do seu corpo para fome e saciedade.
Quem precisa do tratamento deve ter em mente que todo o processo é uma mudança de comportamento. É improvável conseguir mudar hábitos de 5 ou 15 anos em 1 mês. Então, é importante ter paciência e lembrar que a jornada vai proporcionar mais tranquilidade no dia a dia, mesmo que demore para estabelecer o seu comer normal.
Acho importante lembrar que estamos falando de pessoas que estão lidando com um transtorno alimentar, mas o transtorno alimentar não define uma pessoa.
Todo mundo é muito mais do que a forma corporal e o próprio peso. Não podemos medir a vida na balança. Por isso acredito numa abordagem nutricional gentil e humanizada, que leva em conta a história e respeita as vontades de cada pessoa.