O prazer não é supérfluo
Costumo falar muito sobre a importância do prazer na alimentação – e na nossa vida, de forma geral. A comida pode ser uma mobilizadora de sensações físicas e também emocionais e não comemos só para sobreviver: este é um ato também de prazer, de autoconhecimento e de expansão da nossa percepção do mundo, das culturas e das pessoas.
A comida, no entanto, é socialmente regulada e permeada por regras. E, por isso, nosso comer não está “livre” de percepções imputadas pelo exterior. É o que explica John Conevey no livro “Food, Morals and Pleasure” (“Comida, Moral e Prazer", em tradução livre). Na obra, ele investiga as relações complexas entre alimentação, ética e prazer e como nossas escolhas vão além de decisões individuais ou culturais, mas também são construídas por normas sociais, crenças e outros fatores.
Existe, em diversos contextos, uma tensão entre questões éticas e o prazer que são ditadas pelo nosso tempo e por questões construídas antes de nós. A restrição de alguns alimentos em certas culturas, a conscientização em torno da produção de uma determinada comida, entre outros, são fatores levados em consideração.
Muitas vezes, nossas decisões alimentares são influenciadas por normas sociais que regulam o que é considerado "moralmente correto", enquanto o prazer e a satisfação são entendidos de forma subjetiva. Em muitas sociedades e contextos específicos, o prazer é visto como algo supérfluo que deve ser evitado, criando uma desconexão entre o emocional e o corporal. Isso mostra que a regulação dos nossos corpos e do que comemos é constante e que precisamos observar esses aspectos para que possamos tomar escolhas conscientes sobre a nossa relação com a alimentação e com todos os aspectos das nossas vidas.
Em suma: os alimentos estão carregados de significados morais e emocionais e refletem as dinâmicas culturais e sociais das sociedades. Sentir prazer – e, esta sensação é experienciada de forma única por cada um –, é não só importante, como também um ato político, pois o nosso bem-estar e nossa felicidade são transformadores.