A relação entre gordofobia e racismo
Somos atravessados por muitos marcadores sociais – gênero, raça, classe, entre os principais deles. E, quando se pertence a algum grupo minorizado socialmente, essas interseccionalidades atuam de forma ainda mais intensa. Nesse sentido, o racismo e a gordofobia estão mais relacionados do que muitos supõem. São duas formas de opressão gravíssimas, que carregam uma longa história de construção de padrões e de exclusões.
Por exemplo: durante o Renascimento, na Europa, o padrão de beleza era de mulheres com mais peso e curvas. Este parâmetro passou por mudanças influenciadas por vários fatores, entre eles a horrenda prática de escravização de povos africanos. Segundo Sabrina Strings, socióloga e professora da Universidade da Califórnia Irvine (EUA), o surgimento da gordofobia está intrinsecamente ligado à escravidão pois, para enfatizar diferenciações, se passou a perpetuar a ideia de que as mulheres brancas deveriam ser esbeltas.
Os corpos de mulheres negras foram objetificados e desumanizados, por vezes expostos como atrações exóticas, e muitos cientistas disseminaram ideias como a de que mulheres africanas tinham mais tendência a engordar.
Além disso, o racismo tem uma forte influência na vivência de quem experiencia a discriminação. Um artigo publicado na revista Public Health Nutrition por pesquisadores do Grupo de Estudos em Determinantes Sociais em Alimentação e Nutrição (DESAN) da UFRGS afirma que o racismo pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de obesidade. Situações de estresse e, também, as desigualdades sociais, que atingem de forma mais intensa pessoas negras, fazem com que haja uma tendência a consumir alimentos ultraprocessados e hiperpalatáveis "como uma forma de compensação" da situação estressante.
Esses estudos mostram que falar sobre alimentação exige um olhar para os vários fatores sociais que impactam no coletivo e no individual. Toda forma de discriminação, especialmente de grupos minorizados e perseguidos, podem causar impactos emocionais profundos. Lutar contra o preconceito precisa ser um movimento coletivo.