Crianças, alimentação e saciedade
Identificar nossa fome e, também, nossa saciedade, é um exercício que deve começar ainda na infância. Pode parecer uma declaração óbvia, mas, na maioria dos casos, ela não é colocada em prática. Isso porque muitas vezes os sinais dados pelas crianças são ignorados, causando silenciamentos e até práticas forçadas em relação à comida.
Quanto mais nova é a criança, menor é a capacidade de elaborar sentimentos e necessidades, se exprimindo de formas mais reativas, como o choro. Na primeira infância, quando os alimentos começam a ser introduzidos, é comum que as crianças façam “cara feia” para alguma comida, por sua textura ou gosto. Isso não quer dizer, necessariamente, que ela não gostou do alimento, mas que está estranhando aquela novidade. Existe um processo de familiarização com a comida.
Com a rotina cada vez mais corrida, muitos cuidadores não conseguem ter o tempo para estabelecer uma rotina alimentar ou mesmo ampliar o paladar das crianças. E, nesse processo, que é cansativo, com a criança rejeitando a comida, chorando, entre outras atitudes que podem causar estresse tanto nela quanto no cuidador, também é comum ouvir relatos de imposições para que os pequenos comam.
Disciplinar é necessário, mas forçar a criança a comer pode ter um efeito muito negativo a curto, médio e longo prazo. Não adianta “raspar o prato” ou comer só mais uma garfada quando não há fome. Isso pode até ser violento. É muito importante que os cuidadores ouçam as crianças, façam com que elas expressem sua fome e sua saciedade e aprendam a encontrar soluções para contornar problemas relacionados ao comportamento alimentar.
Crianças aprendem muito a partir do exemplo. Então, é importante que os adultos desenvolvam uma relação positiva com a comida, que entendam seus corpos e sentimentos. Respeitar a saciedade da criança é entendê-la como capaz de tomar decisões. Essa atitude ajuda não só a estabelecer uma relação melhor com a alimentação, como também com a vida, pois, a segurança de ser ouvido e acolhido e conseguir expressar seus sentimentos e vontades é preciosa.