Como as redes sociais têm transformado os nutricionistas em juízes?
Um fenômeno muito comum nas redes sociais - principalmente no Instagram - é o compartilhamento de fotos de comida. Pratos feitos em casa ou elaborados em restaurantes são fotografados de forma a registrar boas experiências gastronômicas e, também, atrair os olhares (e likes) dos seguidores.
Mas, outra categoria que tem se tornado bem comum é a de pessoas publicando imagens se alimentando e, na legenda, postando textos como "minha/meu nutri vai me matar", quando aparecem comendo alimentos considerados maléficos, ou, ao contrário, "orgulho da nutri", quando se trata de insumos vistos como saudáveis. O comportamento, que parece inofensivo, mostra um pouco da relação entre nutricionistas e redes sociais.
Juízes da nutrição na internet: um comportamento perigoso
Pode parecer uma besteira, mas isso mostra como, no geral, a relação da nossa sociedade com a alimentação é pautada em uma ideia de culpa e, nesse sentido, o profissional da nutrição é deslocado para um lugar de juiz.
Caberia a nós julgar o que é certo ou errado e prescever um comportamento padrão que deve ser seguido por todos - e, caso alguém descumpra, esta pessoa teria que ser repreendida. Esse pensamento é uma falácia e também é muito perigoso, pois deturpa o papel dos nutricionistas e cria uma percepção de que comer deva ser passível de vigilância.
O papel do nutricionista está longe de julgar
No momento em que achamos que é natural regular o nosso comer a partir das expectativas e/ou pressões dos outros, comprometemos nossa independência e perdemos de vista o que nos satisfaz e ressoa positivamente em nós.
É importante que se desconstrua essa percepção que vilaniza certos tipos de alimentação e de comer. Cada um passa por processos singulares e sabe de seus próprios processos.
O nutricionista não é um juiz e nem um carrasco. Nosso papel é caminhar junto, encontrar formas de auxiliar na caminhada dos pacientes tendo em vista os indivíduos são únicos. Então vamos repensar essa e outras expressões negativas que já foram naturalizadas, tipo "dia do lixo" ou "meter o pé na jaca"? São transformações que têm impactos profundos a nível individual e coletivo.