O caminho é para dentro. Mergulhe!

Eu vejo muitos pacientes chegando ao consultório e não conseguindo valorizar ou enxergar alguns acertos no meio do caminho. Isso me deixa bastante reflexiva sobre o assunto e me faz pensar como é difícil a gente cultivar a autocompaixão. Por que é tão difícil a gente praticar isso? Penso que a cultura ocidental enfatiza a importância de sermos gentis com nossos amigos, familiares e vizinhos que estão lutando na vida. Contudo, não nos ensina a adotar a gentileza conosco.

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Quando alguém comete um erro ou falha de alguma forma, tem mais propensão a bater em sua própria cabeça com um pedaço de pau do que a se abraçar em demonstração de acolhimento. Provavelmente até o pensamento de se autoconfortar parece absurdo. Mesmo quando nossos problemas decorrem de forças fora do nosso controle, a autobondade não é uma resposta culturalmente válida. Em algum lugar, ao longo da vida, recebemos a mensagem de que indivíduos fortes devam ser estoicos e silenciosos, capazes de controlar o seu próprio sofrimento – como John Wayne num filme do velho oeste. Infelizmente, essas atitudes roubam um dos nossos mecanismos mais poderosos de enfrentamento quando lidamos com as dificuldades da vida.

A autobondade, por definição, significa interromper o autojulgamento constante e os comentários depreciativos internos que a maioria de nós vê como algo normal. Ela nos obriga a compreender as nossas manias e fraquezas em vez de condená-las. Leva-nos a vermos com clareza os nossos limites para a autocrítica implacável, terminando, assim, a nossa guerra interna. Mas, a autobondade é mais do que simplesmente parar com o autojulgamento. Também é a nossa capacidade de nos autoconfortarmos de forma ativa, agindo da mesma forma que faríamos com um amigo querido em sofrimento. Isso significa se permitir ser emocionalmente movido pela sua própria dor, parando tudo para dizer: “Está bem difícil agora. Como posso me cuidar e me confortar neste momento?” Com a autobondade, apaziguamos e acalmamos a nossa mente perturbada. Ofertamos a paz, a cordialidade, a gentileza e a simpatia de nós para nós mesmos, de modo que a verdadeira cura possa ocorrer. Acredite, errar faz parte. Quando erramos entendemos que isso deve estar incluso no processo que passamos ao longo da vida.

É com embasamento nesse conceito e forma de enxergar o mundo, que trabalho em consultório, em cada gesto e palavra, uma forma de ajudar as pessoas a enxergarem a grandeza de falhar e o reconhecimento de que, pequenos passos, é uma vitória. Entendendo assim, que tudo faz parte da vida e que tá tudo bem. 

 

MATERIAIS QUE GOSTO SOBRE O ASSUNTO

Vídeo com a médica Paula Teixeira na entrevista com a querida Sophie Deram (uma prática de autocompaixão corporal). Uma prática incrível feita para ser feita sozinho, em um lugar calmo e que causa reflexões muito interessantes sobre o nosso “eu interior” – Mindfullness sendo feito a partir da sua própria vivência. Experimente!


Vídeo com a Marta Alonso, uma professora espanhola de minfullness, uma aula muito boa de se ouvir para levar para vida. Marta é especialista em Psicologia Clínica pelo Ministério da Educação e Ciência da Espanha/Professora Certificada do programa Mindfullness Compassion.


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O livro de Kristin Neff – doutora em Desenvolvimento Humano pela Universidade de Berkeley, na Califórnia – fala sobre a autocompaixão e a necessidade de autoconhecimento como fonte geradora de empatia entre os seres humanos. Kristin mostra o caminho para nos libertarmos dos sentimentos de frustração, culpa e inadequação. 

AcolhimentoEllen Cocino