Os efeitos da urgência do contemporâneo na alimentação

O atual momento da pandemia, no qual, no Brasil, a maior parte da população está vacinada e, com isso, várias restrições estão sendo revogadas, tem provocado uma euforia generalizada. É compreensível, depois de um período marcado pelo medo e pelo luto.

Mas esse fenômeno não começou nos últimos dois anos e remonta há uma transformação da nossa sociedade há pelo menos duas décadas. Enquanto lá nos séculos 19 e 20 a tecnologia, as descobertas científicas e as mudanças políticas provocavam uma grande fé no futuro, hoje vivemos em um momento marcado pelo imediatismo. Como isso pode afetar as nossas vidas nos diferentes âmbitos?

Efeitos da urgência

É o que filósofos como o italiano Franco Berardi classificam como presentismo. Como o futuro já não está associado à perspectiva de dias melhores, há uma urgência pelo aqui e agora.

E o que isso tem a ver com alimentação? Tudo! Essa perspectiva de que tudo tem que ser feito agora - e que o tempo pode estar contra nós - pode gerar uma sensação de ansiedade que afeta vários aspectos da vida, como as relações interpessoais e a forma como a pessoa se relaciona com o mundo e inclusive com a comida.

Imediatismo na alimentação

Se alimentar pode deixar de ser um prazer para se tornar um fardo. Em busca de se adequar a padrões fabricados pela indústria e a publicidade, sem pensar, de fato, na saúde física ou mental, algumas pessoas se submetem a dietas restritivas e a comportamentos que podem se desenvolver em transtornos alimentares e emocionais.

Esse processo por vezes leva a um sofrimento que priva o indivíduo de desfrutar a experiência de se alimentar. O prazer é substituído pela obrigação ou, em outras situações, a gratificação temporária faz com que excessos se tornem regra e a comida, uma válvula de escape para os problemas.

Uma relação mais saudável com o tempo

Estes são sintomas do nosso tempo e gravitar em torno deles pode ser tortuoso. Encontrar caminhos que façam sentido para você em meio a todas essas pressões é desafiador, mas possível. É um processo que não tem pré-fabricadas, que se inicia no momento em que você percebe que é um ser singular e, dessa forma, não precisa se pautar pelas pressões externas. Descobrir o que te faz bem e qual o seu tempo, é libertador.