Sobre um caso de lipoaspiração fatal
Recentemente, uma mulher morreu por causa de complicações após um procedimento cirúrgico. Uma blogueira bastante conhecida e o caso veio à tona, tornando mais sensível um problema que precisa ser discutido com a seriedade que merece.
Já faz algum tempo que diversas mulheres estão buscando incansavelmente um padrão de beleza inalcançável, se submetendo à mais e mais intervenções no corpo. Mulheres que não são famosas. Não rendem pauta. Não vão pra mídia. Mulheres que carregam nas costas o peso de não estar dentro de um padrão - ou achar que não estão - sofrendo pela pressão estética.
A cultura do "tudo pelo corpo ideal" tem chegado cada vez mais cedo aos corpos femininos, criando necessidades que simplesmente não estavam ali. Que não deveriam estar ali. Nos chamam de feias para nos vender soluções perfeitas.
Padrões estéticos perfeitos: uma ilusão
Até onde você iria para tentar se encaixar num padrão que não existe? O que você abdicaria por isso? A sua saúde? O seu relacionamento? As suas amizades? Horas de sono? Dinheiro? Tempo? Emagrecer não pode ser um propósito de vida. Ele pode - e se necessário, deve - fazer parte da sua vida, pode inclusive lhe transformar e muito, por dentro e por fora. Mas ele nunca pode ser uma meta única. Somos mais que isso.
Se perguntar como a indústria da beleza atinge você hoje é, antes de mais nada, entender qual padrão você inconscientemente tenta seguir. Ele pode não ser para o corpo, mas pode ser para a alimentação, para os cabelos ou para a pele. Os avanços da estética impulsionaram a busca pelo perfeito em todos os lados.
E a saída?
Em uma de suas músicas, Beyoncé canta que ‘‘a perfeição é a doença da nação’’. O mundo está adoecido, mas as pequenas doses mostram que já possibilidades
A pressão que vivemos para nos encaixar é também a pressão que nos ajuda a sair disso. Estranho, né? Mas quanto mais uma mulher se sente pressionada a obedecer uma lei invisível, mais as outras tendem a lhe fazer sair dessa posição.
Assumir o seu corpo é um ato revolucionário. Que pede coragem, responsabilidade e cuidado. Mostrar que um corpo pode ser saudável sem precisar andar numa passarela (raramente os corpos de passarela são saudáveis: os distúrbios de alimentação sempre desfilam junto) é mostrar que estar bem e se sentir bem são as únicas coisas que importam.
Que outras mulheres não precisem morrer para nos lembrarmos como é importante praticar o autoconhecimento e dar cada vez menos ouvido à um discurso de opressão estética, que anula, machuca e mata as mulheres todos os dias.
Juntas, podemos amar nossos corpos. Juntas, podemos mostrar que é possível viver bem habitando aceitando a história que nosso corpo conta.