Racismo alimentar: injustiças que se perpetuam pela alimentação
Você já ouviu falar em racismo alimentar? Trata-se de um conceito que entende que a comida pode ser utilizada para agravar desigualdades sociais e estigmatizar, excluir e até dizimar grupos de pessoas. Se pensarmos que, apesar de ser essencial à vida, a alimentação ainda não é um direito garantido a todos, podemos ter dimensão do sofrimento imposto a milhões de pessoas no Brasil, para ficarmos circunscritos apenas ao nosso país.
Ter acesso a uma alimentação saudável, infelizmente, ainda é um privilégio de poucos, e alguns grupos, como pessoas negras e indígenas, estão mais vulneráveis. A insegurança alimentar faz com que um número absurdo de pessoas não saiba se irá ter comida diariamente. Mariana Fagundes Grillo, Caroline de Menezes e Ana Carla Duran, em um estudo publicado em 2022, observaram que em locais onde há predominância de pessoas pretas e pardas com renda inferior às de comunidades majoritariamente compostas por brancos, os estabelecimentos oferecem menos opções de alimentos in natura.
Isso quer dizer que uma parcela da população é obrigada a consumir mais produtos ultraprocessados ou de baixa qualidade, o que é reforçado também pela postura das grandes empresas. Um relatório publicado este ano pela Public Eye mostrou que a Nestlé envia para o Brasil e países da América do Sul, África e Ásia produtos com qualidade nutricional inferior aos dos mesmos produtos vendidos nos EUA, Europa e outros locais de maior renda.
Por isso, não podemos cair na ilusão de que "comer bem" ou "saudável" é só uma questão de escolha. Esse tipo de narrativa só reforça injustiças e causa dores e transtornos físicos e emocionais. Precisamos observar a comida como um elemento fundamental das nossas dinâmicas sociais - e garantir que todos possam ser acesso à segurança alimentar.